Encontrando

Quero O Que?

Seria muita pretensão desejar saber o que faço comigo agora?
Ao olhar os outros a sensação que me vem é que só eu estou sem rumo,
que todos já conseguiram o seu bem-estar, cumpriram suas tarefas e agora,
dedicam-se apenas à curtir e saborear o que obtiveram.

Sinceramente me pergunto: será que isso também foi feito para mim?
Não seria mais inteligente, menos custoso, menos sofrido, assumir que não?
Não seria esse o lado bom da morte?

Bem, mas enquanto ela não chega o que faço?

É, estou frente à uma boa pergunta?
E ainda mais, sem nenhuma resposta.

O que me resta então?
Nada mais que conviver com o que tenho no momento, só alternâncias:
de pessimismo e otimismo,
de fé e desesperança,
de querer estar longe e ficar perto,
de decidir por um caminho e ir por outro,
de ainda desejar algo que parece não querer vir.

Seria isto tudo um enorme teste?
Que até agora tudo não teria sido apenas uma preparação para ele?
Que seria este o preço justo por algo ainda maior?
Que seria essa a condição para poder desejar?

De fato,
hoje sou só perguntas, dúvidas, indecisões, incertezas,
só desejos, sem nenhuma certeza,
fé sem nenhuma garantia,
enfim, alguém que segue só para não parar.

Movimento,
isto eu noto que me acompanha,
parece ser a tônica do meu momento.
É, paralisado definitivamente não estou.

Aí então me vem o óbvio:
já que não morri, vivo.
Sim, e daí?

Daí que ainda quero,
desejo, almejo,
ainda acredito que posso.

Percebo então, que além de simplesmente viver,
estou vivendo por opção,
que não quero desistir assim tão fácil,
que não quero morrer, não mesmo!

18.01.00

Enfim, de volta!

Era uma manhã chuvosa, fria, ruim de andar a pé.

A minha maleta estava bem pesada, o guarda-chuva teimava em voar, a blusa que eu não havia levado fazendo falta, os óculos cada vez mais embaçados, a chuva cada vez mais cortante, o celular teimando em cair da cintura, assim eu caminho em direção à minha volta.

Quando chego quase nem noto que de fato havia conseguido chegar.

Quase nem noto que havia conseguido voltar de onde havia partido há um bom tempo atrás.

E, como se fosse a coisa mais natural do mundo, fazemos o nosso primeiro contato.

Começamos a andar juntos e parece que o tempo não passou, parece que estivemos separados apenas por um curto período, parece que o tempo não contou, parece que foi ontem.

Quando nos separamos era o negro que preponderava, agora é o claro que manda.

Quando nos separamos eu me sentia triste, deprimido, feio, apático e

agora me vejo formoso, cheio da vida, os olhos brilhando de novo.

Antes eu caminhava para trás, agora estou indo em frente, com tudo.

Nossa, eu consegui retomar de onde havia parado, estamos juntos de novo.

Enfim, estou de volta!

17.05.07

Hoje Estou de Luto

Hoje enterrei definitivamente um sonho,
um sonho que nem sei se teria alguma chance de se realizar.
Embora irreal, era o que eu conseguia dar conta então.
Hoje, eu estou de luto.

Mesmo sendo irreal, ele me fez viver, entregar-me, lançar-me,
saborear a aventura, experimentar o risco.
Com ele pude sentir os extremos, o tórrido e o gélido.
Apesar disso, hoje eu estou de luto.

Neste dia em que ele se acaba,
embora tudo esteja claro para mim,
não me paire nenhuma dúvida, nenhuma indecisão,
eu sou um choro só, um choro muito, muito alto.
O choro forte e desesperado de quem passa pelo luto.

Ainda insiste aquela sensação do sonho do sonho impossível,
o único recurso para enfrentar o desconhecido da sua próxima ausência.
Ele poderia não ser factível é verdade,
mas me iludia com a sua existência.
Por isso estou enlutado.

Talvez seja este o preço para uma real chance,
talvez amanhã eu até possa pensar em olhar o Sol,
talvez até encare a sua despedida como uma nova abertura.
Mas hoje, hoje é só o luto.

Como será viver sem sem esse sonho impossível?
Não mais contar com as suas expectativas, embora falsas, que me proporcionava?
Como fazer sem as suas ilusões para acreditar?
Como viver sem a crença, embora frágil, que me proporcionava?

Temo tentar avaliar o tamanho deste medo.
Hoje eu não dou conta disso. Sou só tristeza.
Hoje eu estou de luto!

Estamos Sós?

Porque insistimos nisso?
Porque não aceitamos que também somos responsáveis por isso?
Porque duvidamos que existem outros que também torcem por nós?
Porque tememos?

União: qual seu significado quando nos sentimos sós?
quando não podemos nos mover,
quando está difícil nos bastarmos.

Ah! então é isso,
o grande erro, o grande engodo,
a história mais mal contada que, sem titubear, de velho aceitamos.

O outro está aí, sempre!
geralmente muito perto de nós,
por vezes até nos pegando na mão.

Porque insistimos em não enxergá-lo?
em não estar disponível?
em não nos abrir?
em não aproveitar bastante o que é bom?

Respostas,
permitirmo-nos as perguntas?
a procura, o talvez encontrar?

Quem sabe, não será por aí?

20.12.98/20.03.99

Certas Coisas Significam o quê?

Vale tentar-se em algo maior?
A tentativa cabe ?
Não seria mais lúcido proteger-se do provável sofrimento?
ou mais inteligente ouvir aqueles que o aconselham a não ir?

Apostar na mínima possibilidade é saudável?
Ilimitar a flexibilidade da paciência não seria uma sutil forma de fuga?
Manter expectativas quase impossíveis não seria na verdade negação?

Como é permanecer parado?
Ter como única ação a passividade?
Conviver ao mesmo tempo com boas lembranças e cruéis dúvidas.
Imaginar a real dimensão do seu próprio significado,
apavorar-se com a idéia dele ser mínimo.

Como é permanecer num ponto à espera de um ônibus que talvez já tenha passado?
Apostar na hipótese de que ele atrasou-se?
Viver a terrível angústia de que ele talvez ainda passe, porém lotado.
Mas quem sabe, o seu lugar ainda esteja lá, reservado, lado a lado.

Reviver lembranças é um ato de coragem?
Com certeza ao lado das boas coisas vividas virão também as não tão boas.
O fato é que eu não conheço outro modo
de reconhecer as situações em que se foi fundamental.
À consciência de não ter-se negado à um papel que,
em determinados momentos, cabia exclusivamente à você.

Apesar das dúvidas,
das possibilidades poderem significar sofrimento,
das chances não parecerem as melhores,
é muito bom conviver com a certeza de que
a ação correspondeu ao que o momento exigia,
o coração esteve liberado sem nenhum temor,
cada bom momento foi muito bem curtido,
de algum modo me alimentei.

Este é o meu modo de acreditar.
Tomara conte sempre com ele,
tomara eu nunca venha a duvidar que o meu Sol raiará de novo!

Alimentadores de Almas

Hoje me sinto feliz,
ontem não, estava triste.
Não poderia ir vê-los cantar.

Eis que, de repente, surge um grupo de pessoas, todos de camisa vermelha,
olhares desconfiados, tensos, temerosos de estarem importunando.
Eram coralistas que cantavam “Adestes Fidelis”, “Noite Feliz” e
tantas outras, velhas conhecidas nossas.

Ao final, aplaudi.
Um aplauso solitário do meu leito,
num ambiente que talvez nunca tenha conhecido tal som.

Eles vieram até mim,
Tentamos, mas não conseguímos nos falar.
A forte emoção só nos permitia sorrir e chorar.
Uma coisa era certa: eram irmãos se doando desinteressadamente!

Uma esperança e uma paz de alma incríveis tomaram conta de mim.

Hoje,
serão vocês que estarão distribuindo tudo isso à sua platéia
e eu daqui, estarei aplaudindo-os e amando-os!

Meus queridos alimentadores de almas!

Nota:
Era um final de ano, mais exatamente a semana de Natal e eu estava na UTI aguardando pela implantação de um marca-passo. Naquele fim de ano eu não poderia estar com um grupo de coral do qual participava e estava triste por isso. Nisso surge um grupo de voluntários que formavam um coral que se apresentava em hospitais para animar quem estava internado. Eles conseguiram alimentar minha alma e eu consegui enviar o poema acima para o meu grupo que estaria se apresentando naquela data. Isso aconteceu em dezembro de 98 e até hoje, quando me lembro desse momento, me sinto alimentado.

Em Busca, sempre

“Amar e ser correspondido no amor é maravilhoso e sobre isso eu sei tudo!”

Pois é,
encontrei a definição daquilo que há de mais lindo no mundo,
a definição do meu desejo,
o objetivo da minha caminhada,
a perfeita concretização, em palavras, dos meus sonhos.

Encontrei alguém dizendo isso,
seus olhos transmitiam um sorriso de esperança, de acolhimento,
de uma aceitação involuntária de um fato não desejado.
Transmitiam uma força interna impensada frente a um revés.

Porém,
o alguém objeto deste amor,
aquele que correspondia da mesma maneira,
não estava mais entre nós.
Pelo menos não nesta dimensão que conhecemos.

E como fica aquele que procura e ainda não achou?
Sua situação é melhor?Seu sofrimento é menor?
Seria a solidão menos dolorosa do que achar e não mais ter?

Como será viver sem nunca ter encontrado, comparado a conviver com a ausência?

Como será lembrar-se de um toque que nunca mais se repetirá comparado a nunca ter sido realmente tocado por alguém?

Como é nunca mais fitar o olhar amado, comparado a nunca ter sido realmente olhado?

Reencontrar, encontrar,
São dois movimentos que se fundem numa mesma e única forma de esperança: a certeza do amor!

A certeza de que nunca deixaremos de reencontrá-lo ou encontrá-lo!

Nota
A colocação com que abro o meu poema eu a ouvi numa canção de Roberto Carlos na altura em que ele havia perdido a esposa doente e estava muito alterado por isso.
Vi-me então matutando se valeria apena gostar tanto de alguém e depois passar pelo intenso sofrimento da sua perda – a resposta eu encontrei neste meu poema “Em busca, sempre”.